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Da Expo’98 à pandemia: o fim da “da cidade de exceção” e o regresso às necessidades de sempre.

Às operações de recuperação urbana baseadas no ‘laboratório’ da Expo’98 em 39 cidades, sucedeu no Portugal pós-pandémico o “pragmatismo burocrático” da habitação e das estruturas de mobilidade financiadas pelo PRR. A urgência de habitação, de expandir sistemas de transportes e critérios de eficiência e baixo custo estão agora, apenas, a produzir estruturas e edifícios. “É necessário cuidar da vida entre os edifícios”, alerta o livro “Os Grandes Trabalhos e o Desejo da Cidade de Exceção”. 




À visão celebrativa, otimista e espetacular de recuperação dos centros das cidades portuguesas nas duas décadas que se seguiram à Expo’ 98, cujo modelo de intervenção foi replicado em todo o país, estão a suceder-se em Portugal, após a pandemia da Covid 19, investimentos em habitação e em mobilidade marcados pela urgência da necessidade – e a cujo utilitarismo falta a dimensão urbanística e arquitetónica que distinguiu o período anterior. 

 

 

Um desenvolvido sob a marca do Programa Polis, que realizou intervenções em 39 cidades, de Bragança a Albufeira. O outro, financiado pelas verbas do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), está a ser executado para que Portugal recupere dos anos da Covid com mais casas no mercado e com investimentos em mobilidade como o novo aeroporto de Lisboa, linhas de TGV, a expansão dos metropolitanos em Lisboa e Porto, novos sistemas transportes nas áreas metropolitanas ou a construção do metrobus em Coimbra.  

 

“Depois da ‘Cidade Exceção’ voltaram as necessidades de sempre...”, afirma Paulo Tormenta Pinto, professor de Arquitetura e Urbanismo no Iscte e editor do livro, juntamente com Ana Brandão. “A Expo’98 é um exemplo da importância atribuída ao projeto urbano: trata-se de um planeamento em múltiplas escalas, do território aos edifícios, das infraestruturas ao espaço público. Ao longo de vinte anos conjugam-se em Lisboa intervenções como a do eixo Avenida da República-Marquês de Pombal, da praça de Espanha, do Campo das Cebolas ou de Santa Apolónia, com corredores verdes a enquadrarem edifícios notáveis como o novo terminal de cruzeiros”. 

 

 

Da gentrificação à perda da qualidade urbana


Esta dinâmica em Lisboa, replicada no Porto e na maioria das cidades médias do país, caraterizou-se por uma grande preocupação em definir espaços de encontro e de socialização com trajetos de circulação pedonal. Houve uma reposição de padrões urbanos que tinham sido perdidos pela cidade moderna, como o da circulação das pessoas em espaços comuns que propiciam o encontro, a conversa e a convivência.  


“A tudo isto sucede agora um conjunto de investimentos determinados pela necessidade de fazer depressa, com custos controlados”

Um dos efeitos deste investimento no centro das cidades foi a atração de novos públicos, cada vez mais públicos internacionais, a aceleração de atividade económica. Os efeitos negativos deste processo foram a subida dos preços, a expulsão de moradores tradicionais. Numa palavra: a gentrificação. E o problema maior que lhe está associado – o encarecimento de casas para residentes e falta de liquidez, quer do mercado da compra, quer de arrendamento. 

 

“A tudo isto sucede agora um conjunto de investimentos determinados pela necessidade de fazer depressa, com custos controlados”, afirma Paulo Tormenta Pinto. “Desde as novas habitações até aos edifícios públicos, como estações de transportes, tudo passou a ser feito debaixo de uma ótica de pragmatismo burocrático, privilegiando-se modelos contratação pública como o da conceção/construção”. 

 

Segundo o editor do “Os Grandes Trabalhos e o Desejo da Cidade de Exceção”, falta integração urbana aos novos projetos. “Projeta-se a habitação e não o habitat”, afirma Paulo Tormenta Pinto. “É necessário cuidar da vida entre os edifícios, pensando a cidade na sua dimensão sistémica e ecológica”.  

 

“Os Grandes Trabalhos e o Desejo da Cidade de Exceção” é publicado pela Circo de Ideias. O lançamento será às 18:00, no dia 23 de abril, numa conferência com João Ferrão, Manuel Salgado, Álvaro Domingues, João Nunes – e os editores, Paulo Tormenta Pinto e Ana Brandão. A moderação estará a cargo de Marta Sequeira. 

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