O Relatório “Quem são os jovens desempregados?”, realizado para o IEFP pelo Observatório do Emprego Jovem no Iscte, revela que as baixas qualificações são o principal obstáculo ao início das carreiras profissionais. É um fenómeno persistente, que exige formações específicas em contexto de trabalho, com remuneração. A ministra Ana Mendes Godinho vai participar na apresentação pública deste relatório no dia 2 de novembro.
Em 2022, dos cerca de 100 mil jovens desempregados em Portugal, 29,6% conclui, no máximo, o 3º ciclo do ensino básico (9º ano). Apesar desta muita baixa qualificação de quase um terço dos jovens portugueses à procura de emprego, a grande maioria destes não estava a estudar. Na verdade, 23,7% do total dos desempregados não frequentava o sistema de ensino e tinha concluído, no máximo, o 3º ciclo do ensino básico. Estes são dados do Relatório “Quem são os jovens desempregados?”, realizado pelo Observatório do Emprego Jovem (OEJ), uma unidade de investigação do DINÂMIA’CET – Iscte, para o Instituto de Emprego e Formação Profissional – IEFP (ver Relatório e Brochura em anexo).
“Esta é a conclusão mais preocupante do retrato que fizemos: o baixo nível de qualificações de um grande número de desempregados jovens para os quais são necessárias políticas mais direcionadas”, refere Paulo Marques, docente e investigador no Iscte – Instituto Universitário de Lisboa e coordenador do Observatório do Emprego Jovem (OEJ). Este estudo do Iscte para o IEFP abrange o período temporal 2019-2022, “mostrando a persistência do fenómeno, que já era muito visível antes da pandemia da Covid-19 e que se manteve depois disso”.
Para além da quantidade de jovens pouco qualificados, o estudo regista também que na amostra estudada – indivíduos entre os 15 e os 29 anos – existe uma percentagem elevada de jovens desempregados que concluiu, no máximo, o ensino secundário nas vias gerais e que não progrediu estudos. Na verdade, 13,9% dos jovens desempregados completou este tipo de ensino e não se encontra a estudar. Há também uma presença significativa de jovens licenciados, mas nesse caso as áreas de formação desempenham um papel muito relevante para se compreender o fenómeno.
O lançamento público do relatório “Quem São os Jovens Desempregados?” por parte do IEFP vai ter lugar no dia 2 de novembro, pelas 15:00, na sala Maria Keil do Taste Montes Claros (Lisbon Secret Spot), no Parque de Monsanto, em Lisboa. Miguel Fontes, secretário de Estado do Trabalho, e Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, irão participar na sessão e comentar o relatório.
Apostar em formação em contexto de trabalho, com remuneração
A principal recomendação do Observatório do Emprego Jovem para o elevado número de jovens com o 9º ano, ou menos, é a valorização do ensino profissional. “A entrada no mercado de trabalho dos jovens que frequentaram as vias profissionalizantes é claramente facilitada, especialmente se os empregadores estiverem envolvidos no processo de formação”, afirma Paulo Marques. É necessário, no entanto, resolver o problema atual dos cerca de 23 mil e 500 jovens desempregados que têm no máximo o 9º ano de escolaridade e que já saíram do sistema de ensino.
Para o coordenador do OEJ, “é fundamental criar modelos de formação em contexto de trabalho, com remuneração, desenhados especificamente para acorrer à situação destes jovens”. Paulo Marques entende que tal só será possível com o empenhamento dos empregadores: “Portugal neste capítulo pode beneficiar com a experiência de Espanha nos ‘Contratos de Aprendizagem Profissional’, realizados com associações empresariais de diferentes setores”, afirma. Se esse modelo avançar, caberá ao IEFP acompanhar a formação ministrada e monitorizar a sua qualidade.
O OEJ defende nas suas recomendações que para muitos dos jovens que abandonaram precocemente o sistema de ensino, sobretudo os mais novos, sejam criadas oportunidades de ensino profissional. “Faz todo o sentido que o Estado atue nesse domínio, até porque há uma visível falta de mão-de-obra em vários setores de atividade”, afirma Paulo Marques. “O que não pode ser é uma formação igual à que é dada no ensino secundário geral – tem de ser uma formação muito mais ligada às empresas, com uma ligação mais direta ao mercado de trabalho”.
Estas novas modalidades de formação deverão ter em conta as realidades regionais, não só para dirigirem formandos para áreas específicas onde faltam trabalhadores, mas, também, porque a expressão do fenómeno do desemprego jovem não é igual em todo o país. Tendo em consideração os dados dos Censos 2021, nomeadamente no que se refere à distribuição dos jovens por região de residência, os desempregados jovens estão ligeiramente sobrerepresentados no Alentejo, Algarve e Madeira.
Mais competências digitais e mais CTeSP
O Observatório do Emprego Jovem tem também recomendações para os 13,9% dos desempregados que concluíram o ensino secundário nas vias gerais e que não se encontram a estudar: “Devem seguir para o ensino superior, realizando formações de índole profissionalizante, como a conferida pelos CTeSP, ou prosseguir para o ensino superior universitário”, afirma Paulo Marques. “O que não faz sentido é terem concluído o ensino secundário nas vias gerais e não terem prosseguido estudos nem obtido uma formação mais profissionalizante”.
Também existem licenciados desempregados (representam 16,4% do total de desempregados jovens), assim como mestres e doutorados (7,1% do total de desempregados jovens). Relativamente aos licenciados, em 2020, as áreas de formação mais representadas nesse universo são Ciências Empresariais e Direito (26,1% em 2020), Artes e Humanidades (21,4%) e Ciências Sociais, Informação e Jornalismo (20,4%). As recomendações do OEJ são de que se multipliquem as formações do tipo do Programa UPskills – Digital Skills & Jobs, as quais conferem a licenciados de várias áreas competências digitais, nomeadamente nas áreas da ciência de dados e da programação. “O IEFP deverá incentivar a aquisição destas competências”, afirma Paulo Marques.
Um último dado relevante no relatório “Quem são os jovens desempregados?”: em 2022, 16% dos jovens à procura de emprego são estudantes: 6,5% de todos os desempregados estudavam no secundário em 2022, 6,4% estavam a meio da licenciatura e 3,1 eram estudantes de mestrado ou de doutoramento. “A maior parte destas pessoas está mais interessada num part-time do que num trabalho a tempo inteiro”, afirma Paulo Marques. “As razões principais desses estudantes para a procura de emprego são os custos das suas deslocações para fora das suas áreas de residência e a subida dos custos de alojamento”.
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