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Conferência "A cultura tectónica" e o regresso aos fundamentos disciplinares da arquitetura

No próximo dia 4 de dezembro vai ter lugar no Auditório 302 (edifício 4 - CVTT) seminário de Investigação em ATMC dedicado ao tema "A cultura tectónica e o regresso aos fundamentos disciplinares da arquitetura".


A conferência, aberta ao público, terá início às 15:00, contará com a participarão os seguintes convidados: 


Mónica Pacheco – Que irá centrar a sua apresentação na bienal de Veneza de 2014, com curadoria de Rem Koolhaas, dedicada ao tema Fundamentals


Paulo Martins Barata – Abordará a cultura tectónica e o conceito de meta-modernismo.


Joana Couceiro – Irá falar dos processos de reconstrução de Baixa de Lisboa, em particular o projeto de Álvaro Siza, após o incêndio de 1989.


Nuno Tavares Costa -  Partirá do pensamento e da obra de Paulo Mendes da Rocha para abordar as inquietações do antropoceno




Sobre o tema

A atual crise climática vem interpelar o discurso arquitetónico para um regresso aos fundamentos da disciplina.


Quando em 2014, Rem Koolhaas, lançou o tema ‘fundamentals’ como argumento central da bienal de Veneza, pretendia, justamente relançar este debate. Koolhaas propunha uma espécie de secção no tempo longo da história, procurando perceber a partir dessa raiz as bases estruturantes da cultura arquitetónica. Nos momentos de crise, verifica-se geralmente um retorno à base, procurando-se a partir daí o estabelecimento de uma revisão crítica que permita estruturar a continuidade disciplinar da arquitetura.


De entre os teóricos que se dedicaram a definir esse alicerce, destaca-se Gottfried Semper (1803-1879) que, em The Four Elements of Architecture and Other Writings enquadrou a cultura tectónica, também num momento crítico pautado pelo cruzamento entre o apogeu tecnológico e a estilização revivalista da história. Com base na análise de uma cabana caribenha, exposta na Exposição Universal de Londres de 1851, Semper dissecou questões elementares da organização do espaço arquitetónico, como i) o lugar do fogo, ii) a plataforma, iii) a estrutura e iv) o recinto (ou recobrimento tectónico). Este aprofundamento teórico, evidenciando tanto os métodos de construção ancestrais usados pelos indígenas de Trinidad, como a sua relação com a insularidade territorial, não se cristalizava na dimensão antropológica do objeto de estudo. Em vez disso, procurava extrair uma matriz metodológica, que respondesse às demandas do próprio tempo.


Em 1995, Kenneth Frampton retomou este tema nos seu Studies in Tectonic Culture: The Poetics of Construction in Nineteenth and Twentieth Century Architecture, repensando a tradição arquitectónica moderna, pela via da construção. Frampton recua até ao iluminismo, procurando na historiografia francesa, alemã e inglesa a raiz do sentido da construção, como suporte de uma alternativa a uma derivação pós-modernista e globalizante, em contraponto apresenta na linha Habermas o projeto moderno como algo inacabado no cruzamento entre estrutura, construção, espaço e forma abstrata.


No espectro da teoria e história da arquitetura moderna em Portugal o enquadramento da cultura tectónica é seminal. A reconstrução do centro de Lisboa realizada no decurso do trágico evento de 1755, é um ponto de partida basilar para onde converge o saber pragmático associado ao desen-ho da cidade nova e dos seus edifícios. Depois do terramoto e do marmoto que a 1 de novembro, reduziram a cidade a escombros, Manuel da Maia e Eugénio dos Santos, coordenaram uma estratégia de intervenção, baseada na promoção de um modelo construtivo multi-escalar, ajustado à circunstância do sítio e à resistência da edificação à vulnerabilidade sísmica do território. A denominada gaiola pombalina assentou num modelo construtivo de estacar-ia de madeira (pitch pine), penetrando os lodos da margem estuarina do Tejo. A ligação desta estrutura de fundação ao corpo dos edifícios através de tra-vamentos cruzados (cruz de Santo André), permitiu consolidar as novas edificações como um todo, dotando-a da flexibilidade necessária para resistir, não só à tração e compressão, mas também aos momentos fletores que pudes-sem vir a existir em resultado de energias sísmicas. 


A pressão urbanística das últimas décadas, associada aos riscos dos eventos naturais extremos, provocados pelas alterações climáticas, vem trazer para cima da mesa os receios sobre a resiliência dos modelos urbanos e edifi-catórios que têm vindo a ser seguidos. O aumento dos caudais das linhas de água, implicou o lançamento de uma ambiciosa infraestrutura de grande porte, visando encaminhar a estrutura hidrográfica natural de Lisboa a desa-guar na zona de Santa Apolónia, preservando a água em bacias de retenção e resguardando as antigas ribeiras de Alcântara e de Valverde dos efeitos das cheias. Ao nível do edificado, novas medidas de proteção foram igualmente regulamentadas, passando a exigir-se estudos sobre a vulnerabilidade sísmica no controle prévio das obras de reabilitação e ampliação de edifícios.


O trabalho que tem vindo a ser realizado em Lisboa, espelha as preocupações com a mitigação dos problemas causados pela atual situação. A conciliação dos modos de vida, com as transições provocados pelas alterações climáticas, implicam necessariamente um aprofundamento sobre o posicionamento disciplinar da arquitetura, que radique na sua dimensão construtiva e tectónica. A partir desse ponto será necessário perceber, não só a geografia e a especificidade social e biofísica de cada lugar, mas também os fundamentos do desenho e da cultura arquitetónica, pois é nesse saberacumulado que se encontra a chave para o domínio da construção.

O desafio que se coloca é o de saber como se conseguirá enfrentar estascontingências no espectro de uma modernidade que, necessariamente, terá de continuar a ser reinventada como processo coletivo e simbiótico para com o planeta.

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